Breve histórico do ensino de Química na ESALQ

As origens do Departamento de Química confundem-se com a história da própria Esalq. Já em 1905, o Regulamento da então "Escola Agrícola Prática "Luiz de Queroz" rezava que a 2a Cadeira ("Química Mineral, Orgânica e Analítica"), deveria ministrar os conhecimentos de Química em 3 partes: 1a parte – Química Mineral e Noções de Mineralogia; 2a parte – Química Inorgânica e Agrícola; 3a parte – Tecnologia das Indústricas Agrícolas. Os Exercícios, as Aulas ou Demonstrações eram ministrados "nos gabinetes, nos estabelecimentos anexo, ou no campo" e, ordinariamente, deveriam dar ênfase à preparações de química mineral, preparação e análise de produtos como sabões, manteiga, óleos, açúcares, etc., como também a dosagem "nos adubos, da umidade, da cal, da potassa, do ácido fosfórico e do azoto" Além disso, eram ministrados conhecimentos da "teoria mineral da nutrição das plantas , por experiências de culturas n’água e em vasos vidrados". A fabricação de queijos e requeijões, de farinhas, extração e preparo de fibras vegetais eram ensinados aos alunos, os quais ainda faziam excursões às fazendas e fábricas de produtos agrícolas. Para tanto, o Regulamento previa "um laboratório químico suficientemente espaçoso e aparelhado do necessário para as manipulações químicas de toda espécie, particularmente para análises de terras, cinzas, adubos e substâncias orgânicas úteis à industria agrícola ou à alimentação dos animais domésticos".
 
O decreto no 1684 de 21/12/1908, do então Presidente do Estado de São Paulo, manda que no 1o Semestre do 3o Ano da então Escola Agrícola Prática seja lecionada "Química Analítica", e no 2o Semestre "Química Industrial". Os trabalhos práticos deverão ser calcados em análises químicas. Até 1909, essa 2ª Cadeira foi regida pelo Prof. Abelardo do Amaral, o qual transferindo-se para Campinas, foi substituído pelo Prof. Alex W. Gagezou.
 
O início da segunda década deste século já vê nascer uma reorganização das Disciplinas. A "Química Mineral e Orgânica" pelo Prof. Alex W. Gagezou. A Cadeira de Química Geral passa a ter os objetivos de "habilitar os alunos a reconhecerem os corpos inorgânicos de interesse para a agricultura, fazendo-se pesquisas com os diversos métodos, os mais modernos, adaptados nos laboratórios de análise". Dessa maneira, os alunos eram preparados para um aprofundamento na natureza das coisas, deixando antever todo um futuro de grandes realizações que hoje vivemos e que nasceu da semente plantada pela cultura científica de formação européia. Por volta de 1913, as Disciplinas "Química Mineral, Orgânica e Analítica" passam a ser lecionadas pelo Prof. José Álvares, que tem como Auxiliar de Gabinete o Prof. Philippe W. C. de Vasconcellos enquanto o Prof. Carlos Teixeira Mendes encontra-se em aperfeiçoamento na Estação Experimental de Agricultura de Rothamsted, Inglaterra.
 
Na terceira década, os anos 20, o ensino da "Química" já era consideradop como um dos mais completos da Escola Agrícola "Luiz de Queiroz", abrangendo o ensino da "Química Geral, Mineral, Analítica". A "Química Geral e Mineral" era ensinada no Curso Fundamental, em um Semestre, com 72 horas de Aulas Teóricas e Práticas. No 1º Ano do Curso Geral era feito o ensino da "Química Orgânica e Analítica" em 208 horas, nos 1º e 2º Semestres. Aqui, o ensino era dividido em 3 partes: 2 partes de Química Orgânica e 1 parte de Química Analítica.
 
Interessante é observar que as instalações da "Cadeira de Química" foram remodeladas a partir de 1919: "melhorado o programa de ensino, desenvolvido o curso prático e criados os exames práticos correspondentes, o aproveitamento dos alunos tornou-se muito maior". Em 29 de novembro de 1920, foi iniciada a construção do edifício de "Química Agrícola e Tecnologia", cobrindo uma área útil de 2.000 metros quadrados. O Pessoal Docente era então constituído por: a) Professor Catedrático Theodureto de Camargo, Engenheiro Agrônomo pela Escola Politécnica de São Paulo, com Curso de Aperfeiçoamento na Alemanha; b) Professor Auxiliar José de Mello Moraes, Agrônomo pela Escola Agrícola "Luiz de Queiroz", com Curso de Aperfeiçoamento na Alemanha; c) Auxiliares de Ensino: Philippe Westin Cabral de Vasconcellos, Agrônomo pela Escola Agrícola "Luiz de Queiroz", exercendo interinamente o cargo de Professor de Agricultura, e Augusto Saes, Agrônomo pela Escola Agrícola "Luiz de Queiroz". O Professor José de Mello Moraes era encarregado do lecionamento de "Química Geral Mineral", ensinada em um Semestre do Curso Fundamental, com Aulas Teóricas e Práticas e também de "Química Orgânica e Analítica", nos dois semestres do 1o Ano do Curso Geral, teoria e prática. Era seu assistente o Prof. Luiz Silveira Pedreira. Quando o Prof. José de Mello Moraes passou a reger a Cátedra de "Química Agrícola", o Prof. Luiz Silveira Pedreira, em brilhante concurso de cátedra tornou-se o Chefe da 2ª Cadeira "Química Analítica e Orgânica". Foram seus Assistentes os Profs. Paulo Negreiros, Pedro Arinos, Antonio Silveira Pedreira, Francisco Grohmann, Domingos Pellegrino, Pedro Pigati, José Dall Pozzo Arzolla e outros.
 
Com a aposentadoria do Professor Catedrático Luiz Silveira Pedreira, a Cadeira nº 10, "Química Analitica e Organica", lecionada em 2 anos (o primeiro "Química Analítica", e o segundo "Química Orgânica") , passou a ser dirigida pelo Prof. Livre-Docente Jorge Leme Junior, tendo como Assistentes: Domingo Pellegrino, José Dall Pozzo Arzolla e Pedro Pigati.
 
Em 1954, essa Cadeira foi desdobrada em duas outras: Química Analítica, que continuou com o nº 10, e a nº 20, Química Orgânica Biológica. A Cadeira de Química Analítica foi colocada em Concurso e, em 1955, o Prof. Renato Amilcare Catani passou a ser seu Professor Catedrático, tendo como Assistentes os Profs. Domingos Pellegrino Henrique Bergamin Filho.
 
Os trabalhos desenvolvidos pela 10ª Cadeira passaram a se enquadrar em atividades didáticas e de pesquisa, sendo que as primeiras distribuíam-se em 3 disciplinas: Físico-Química, Química Analítica Qualitativa e Química Analítica Quantitativa. As aulas práticas eram individuais, de maneira a facilitar ao aluno a aquisição de conhecimentos básicos de Química Analítica, por meio da execução de trabalhos. Além da parte fundamental de Química Analítica Quantitativa, representada pelos métodos gravimétricos e volumétricos, eram ensinados, na teoria e na prática, métodos físico-químicos, como os colorimétricos, fotométricos e espectofotométricos. A Cadeira passou a oferecer estágios a alunos que, em geral, constavam de uma parte aplicada de Química Analítica.
 
Com a criação dessa Cadeira, abrem-se perspectivas de pesquisa nessa importante área de Química, com grande ênfase nos trabalhos básicos, analíticos, de química do solo e de adubos, voltados para a aplicação prática.
 
No final da década de 1960, além dos já citados, compunham o pessoal docente dessa Cadeira, mais os seguintes Professores: Valdomiro Corrêa de Bittencourt, Nadir Almeida da Glória, Antônio Otavio Jacintho e José Carlos Alcarde.
 
A mais nova Cadeira da ESALQ, antes da reforma universitária de 1970, foi a Cadeira nº 20, Química Orgânica e Biológica, tendo começado a existir em 1954. Nessa Cadeira, lecionavam-se a química dos compostos orgânicos, os detalhes dos processos metabólicos mais importantes que ocorrem nas plantas, animais e microorganismos, de absorção de íons até a produção biológica de antibióticos. Dava-se ênfase ao uso de radiação e de radioisótopos para estudos da nutrição e adubação de plantas, e também de seu metabolismo, e portanto, juntamente com a Cadeira nº 10, integrava-se no campo das Aplicações da Energia Nuclear. Essa Cadeira, tratando de uma gama ampla de assuntos, tinha pontos de contacto e afinidade com várias outras disciplinas biológicas, como Botânica, Agricultura, Entomologia, Genética, Fitopatologia, Microbiologia, Horticultura, Química Agrícola, Tecnologia, Zoologia, Anatomia e Fisiologia Vegetal e Animal, Zootecnia, etc.
 
Até o final da década de 1960, o seu pessoal docente era formado pelo Prof Catedrático Eurípedes Malavolta, que exercia essa função desde 1954, inicialmente, como contratado e, posteriormente, a partir de 1958, como efetivo, por concurso, e pelos Assitentes: Drs. José Dall Pozzo Arzolla, Henrique Paulo Haag, Otto J. Crocomo, José Renato Saruge, Darcy Matins da Silva, Ruy de Araújo Caldas e Henrique Vianna Amorim. As suas linhas de pesquisas englobavam a nutrição mineral de plantas, o metabolismo de compostos nitrogenados em plantas, a microscopia eletrônica, a virologia, e outras. Uma das técnicas de trabalho sempre foi a de radioisótopos.
 
Deve-se salientar que devido à precariedade das suas instalações, e apesar disso, as pesquisas na Cadeira nº 20 foram durante vários anos realizadas nas dependências do Instituto Zimotécnico e da Cadeira de "Química Agrícola", além de se utilizar, também, do Laboratório de Isótopos, inicialmente instalado na Cadeira de Física. Em 1962, com a mudança da Cadeira de Tecnologia do Edifício da "Química" para outro edifício, a Cadeira nº 20 passou a possuir suas próprias instalações com laboratórios muito bons . Por volta de 1964, são criados, na ESALQ, os Cursos de Pós-Graduação, e como não podia deixar de ser, a contribuição das Cadeiras nº 10 e 20 foi grande; Juntamente com a Cadeira de "Química Agrícola" passam a oferecer dois Cursos de Pós-Graduação em nível de Mestrado: "Solos" e "Nutrição de Plantas", os quais mais tarde foram fundidos em um só Curso, o de "Solos e Nutrição de Plantas", oferecidos em níveis de Mestrado e Doutorado.
 
Em 1970, com a Reforma da Universidade de São Paulo, as Cadeiras de nº 10 e 20 uniram-se, constituindo o Departamento de Química, cujo primeiro Chefe, eleito em fevereiro de 1970, foi o Prof. Renato Almicare Catani, tendo sido eleito para seu Suplente, o Prof. Otto J. Crocomo, prof. Adjunto desde 1967.
 
O Departamento de Química, então, passou a oferecer as seguintes Disciplinas: a) Obrigatórias: Físico-Química, Bioquímica Geral, Química Analítica Quantitativa e Bioquímica Aplicada; b) Optativas: Nutrição e Adubação de Plantas Cultivadas, Métodos Instrumentais de Análise e Controle Químico de Plantas Daninhas; Em nível de Pós-Graduação: Química de Solo, Bioquímica de Plantas, Nutrição Mineral de Plantas, Bioquiímica Animal, Metodologia de Isótopos. Em 1970, 43 trabalhos de experimentação e pesquisa estavam em andamento, além de 17 em impressão. Dezoito trabalhos didáticos tinham sido publicados.
 
Em 1970, o seu corpo Docente era assim constituído: R. A. Catani, E. Malavolta, J. D. Arzolla, O. J. Crocomo, H. Bergamim Fo., D. M. Silva, N. A. Glória, J. C. Alcarde, J. R. Sarruge, A. O. Jacintho, D. Pellegrino, H. V. Amorim, H. P. Haag, P. N. Camargo.
 
Com o falecimento do Prof. José Dall Pozzo Arzolla, abriu-se uma vaga de docente, que foi preenchida por concurso pelo Engo. Agro. Luiz Carlos Basso, em 1971. Uma outra vaga deixada com a demissão do Dr. Ruy de Araújo Caldas, em 1972, foi preenchida, também por concurso, pelo Engo. Agro. Luiz Eduardo Gutierrez. Com a aposentadoria do Prof. Renato A Catani, em janeiro de 1975, o Prof. Otto J. Crocomo foi eleito Chefe do Departamento de Química, por um período de 4 anos, tendo como suplente o Prof. Henrique Paulo Haag. No ano de 1975 foram publicados 20 trabalhos de pesquisa, e entregues 57 para publicação. Setenta e um trabalhos de pesquisa estão em andamento, muitos deles em colaboração com outros Departamentos da Esalq e outras Instituições. Vários convênios estão em realização recebendo-se Auxílios da Comissão Nacional de Energia Nuclear, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDE), do Conselho Nacional de Pesquisa e Tecnologia (CNPq), do Instituto Brasileiro do Café (IBC) e muitas outras entidades financiadoras de projetos de pesquisa. Vários de seus membros docentes prestam colaboração com outras Faculdades, sendo o Prof. E. Malavolta, Diretor do Instituto de Química e Física da USP em São Carlos. O Departamento também colabora com o Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), nas pessoas dos Profs. Otto J. Crocomo, E. Malavolta, Valdomiro Correa de Bittencourt, Henrique Bergamim Filho, Darcy M. da Silvs, Luiz Carlos Basso, o Prof. O J. Crocomo é Membro do Conselho Diretor e Coordenador da Divisão de Ciências de Plantas, o Prof. E. Malavolta é Responsável pela Seção de Nutrição de Plantas, o Prof. V. C. de Bittencourt é o responsável pela Seção de Química do Solo, o Prof. Henrique Bergamim Filho é o responsável pela Seção de Química Analítica, o Prof. D. Martins da Silva é o Responsável pela Seção de Fitopatologia (Microscopia Eletrônica).
 
Em 1976, o seu Corpo Docente, que leciona Disciplinas Especiais e Optativas, é o seguinte: Otto Jesu Crocomo, prof. Titular, chefe do departamento; Eurípedes Malavolta, prof. Catedrático; Henrique Paulo Haag, prof. Adjunto; Henrique Bergamim Filho, prof. Adjunto, Nadir Almeida da Glória, prof. Adjunto, Valdomiro Correa de Bittencourt, prof. Adjunto; Darcy M. da Silva, prof. Adjunto; Domingos Pellegrino, prof. Assist. doutor; Paulo Nogueira de Camargo, prof. Assist. doutor; Antonio Octávio Jacintho, prof. Assist. doutor; José Renato Sarruge, prof. Assist. doutor; José Carlos Alcarde, prof. Assist. doutor.; Henrique Vianna de Amorim, prof. Assist doutor; Luiz Carlos Basso, prof. Assist. doutor; Luiz Eduartdo Gutierrez, prof. Assistente; Gilberto Diniz de Oliveira, aux de ensino; Maria Emilia Mattiazzo, docente voluntário; Guilherme Luiz Guimarães, docente voluntário.
 
Em 1976, as disciplinas de Pós-Graduação eram as seguintes: Bioquímica Animal, Bioquímica de Plantas, Bioquímica da Diferenciação Celular em Plantas, Nutrição Mineral de Plantas, Nutrição e Adubação de Plantas Cultivadas, Nutrição Mineral em Silvivultura, Métodos Instrumentais de Análise; Química do Solo, Físico-Química do Solo, Metabolismo Intermediário em Plantas, Introdução à Biologia Molecular, Bioquímica dos Compostos Naturais de Plantas, Matologia.
 
Autoria do Prof. Dr. Otto J. Crocomo & Prof. Dr. Domingos Pellegrino em 1976